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UM CEARENSE NA FUNDAÇÃO DO GRANDE ORIENTE DO BRASIL

2022 – O ANO DO BICENTENÁRIO DO GRANDE ORIENTE DO BRASIL

A história do Grande Oriente do Brasil já foi cantada e decantada em dezenas de livros, em teses acadêmicas, em postagens nas redes sociais, em peças de arquiteturas apresentadas em Lojas, no passado e no presente. Uma história escrita com sangue, suor e lágrimas, com perdas de vidas, de derrotas e de vitórias, com cisões, com reunificações, no passado e no presente. Porém, é uma história  rica de grandes realizações em prol da Maçonaria propriamente dita e na luta e no engajamento nos grandes momentos da história brasileira.

Grandes vultos maçônicos, do passado (14), ja foram reconhecidos como heróis da Pátria Brasileira, por lei federal, cujos nomes estão escritos no Livro de Aço, exposto no Panteão da Liberdade e da Democracia Tancredo Neves, em Brasília, Distrito Federal. São eles: Deodoro da Fonseca, Dom Pedro I, Duque de Caxias, José Bonifácio de Andrada, Frei Caneca, Hipólito José da Costa, Domingos Martins, Carlos Gomes, Idelfonso Pereira Correia - o Barão de Serro Azul, Luiz Gama, Rui Barbosa, Barão do Rio Branco, Joaquim Nabuco, Marechal Osório.

Encontra-se em tramitação no Senado Federal, um projeto de lei de autoria do maçom senador da República Izalci Lucas, para considerar Joaquim Gonçalves Ledo, também, Herói da Pátria Brasileira.

Contudo, muitos outros maçons do passado merecem, também, ser considerados Heróis Nacionais, pelo Governo Brasil, só não foram ainda reconhecidos como tal, por falta de iniciativa de maçons ou de Lojas ou de nossos Grão-Mestres.

Voltando ao Grande Oriente do Brasil, é sabido que três Lojas foram as fundadoras desta Potência Maçônica, a primeira a se instalar em território brasileiro. A Comércio e Artes n. 1, União e Tranquilidade n. 2, e Esperança de Niteroy n. 3, com sede no Rio de Janeiro, tendo como Veneráveis Mestres os maçons: Major Manoel dos Santos Portugal, Major Albino dos Santos Pereira e Major Pedro José da Costa Barros, respectivamente.

Destes os três primeiros Veneráveis Mestres do Grande Oriente do Brasil, destacarei a figura de PEDRO JOSÉ DA COSTA BARROS, um cearense, que foi o Venerável da Loja Esperança de Niteroy, na fundação de nossa, hoje, Federação Maçônica, no dia 17 de junho de 1822.

E quem foi este ilustre desconhecido, da grande maioria dos maçons do presente, e com certeza dos seus conterrâneos cearenses; é o que vamos informar a seguir:

“Nasceu em Aracati (CE), a 7 de outubro de 1779, sendo seus pais o mestre de campo Pedro José da Costa Barros, português natural de Ponte Lima, e D. Antônia de Sousa Braga, pernambucana.

Apesar de se preparar em Coimbra para ingressar no curso de Engenharia, Costa Barros optou pela carreira militar, sentando praça no Regimento de Infantaria do Exército Português, aos 7 de outubro de 1803 e em 30 de agosto de 1811, foi promovido para o Regimento de Artilharia de Pernambuco, passando a Sargento-mor do Regimento de Infantaria de Milícia do Ceará, aos 17 de dezembro de 1814.Seguindo a carreira militar, atingiu em 12 de outubro de 1822, o posto de Tenente-Coronel.

Eleito deputado pelo Ceará, em 1821, ao Supremo Congresso das Cortes, permaneceu no Rio de Janeiro, onde há muito já residia e se ocupava com a magna causa da Independência. Seu patriotismo recebeu a devida recompensa pois havendo o Decreto de 3 julho convocado uma Assembleia Constituinte e Legislativa a reunir-se no Rio de Janeiro, foi ele um dos oitos deputados cearenses, cujos nomes apurou a eleição procedida em 16 de outubro.

A Intendência do Brasil o encontrou na Brigada Real de Artilharia da Marinha. Seu prestígio para com o Trono já se fazia sentir, antes daquele acontecimento, quando foi escolhido Deputado pelo Ceará às Cortes de Lisboa em 1821. Mesmo sem ir para Portugal, foi designado Deputado Constituinte de 1823. Com a dissolução da mesma, passou Costa Barros à direção do Ministério da Marinha, por apenas dois dias, tempo suficiente para assinar a deportação dos irmãos Andradas.

A dita Assembleia Constituinte do Brasil – então dissolvida -, fora convocada graças à campanha liberal e constitucionalista desenvolvida especialmente por Joaquim Gonçalves Ledo dentro do Grande Oriente do Brasil, e solenemente inaugurada em 3 de maio de 1823. Achando-se em pleno funcionamento, discutindo as normas básicas de uma monarquia constitucional e representativa, quando D. Pedro I instigado por suas tropas lusitanas, mandou estas de armas embaladas e artilharia de morrões acesos dissolver a Assembleia e prender diversos deputados, que eram apenas, acusados de atacar pela imprensa a oficiais portugueses. Ação  ocorrida no dia 12 de novembro de 1823.

A notícia de tal dissolução foi comunicada pelo deputado padre José Martiniano de Alencar (irmão de Tristão Gonçalves), que fora preso na ocasião e solto poucos dias depois, causando no Ceará grande surpresa e viva indignação.

Como consequência deste ato imperial, a Câmara da Vila de Campo Maior de Quixeramobim, reunindo clero, nobreza e povo, em memorável sessão, em 9 de janeiro de 1824, depois de violentos discursos, aprovou Resolução de formar uma República estável e liberal, e em fins de fevereiro Tristão Gonçalves e Pereira Filgueiras assumiram a autoridade do governo provisório.

Costa Barros foi o primeiro cearense presidente de Província, ministro e Senador. Militar de brilhante carreira, como político enfrentou sérias dificuldades em consequência de sua fidelidade com o Imperador D. Pedro.

 Foi o primeiro presidente da província do Ceará, para a qual foi nomeado por carta imperial de 25 de novembro de 1823.

Chegou a Fortaleza a 14 de abril do ano seguinte (na corveta “Gentil Americana”), tomou à noite posse do governo, e uma 2ª vez três dias depois, graças à intervenção do Ouvidor interino Joaquim Marcellino de Brito, que combinado com elementos imperialistas provocou uma rendição das tropas, depondo a Junta Provisória.

Em vista dos primeiros atos de Costa Barros, Tristão e Filgueiras reuniram tropas e povo no Aquiraz e marcharam sobre Fortaleza, onde entraram no dia 28 de abril; e convocaram para o dia seguinte a Câmara em grande sessão, na qual ficou resolvida a deposição de Costa Barros, sendo escolhido Tristão para substitui-lo.

Na reunião do dia 26 de agosto de 1824,  do Grande Conselho em Fortaleza, de que fizeram parte 455 pessoas notáveis, foi proclamada a República, formando assim o Ceará na Confederação do Equador, ao lado de Pernambuco, Paraíba e Rio Grande do Norte.

Costa Barros, diante desses fatos, coagido e sem forças para qualquer resistência teve de embarcar em companhia de João Facundo, Capitão-mor Joaquim J. Barbosa e outros para o Rio de Janeiro a bordo do brigue inglês Matilde.

Em 12 de outubro, Tristão deixa em seu lugar João Felix de Azevedo, partindo com tropas para defender a Vila de Aracati, ocupada por tropas do Imperador, chegando na localidade no dia 27.

Porém, João Felix se rendeu no dia 18 do mesmo mês ao almirante inglês (mercenário) Lorde Cochrane, que aportara na cidade, impondo a rendição. João Felix e a população de Fortaleza prestaram juramento de fidelidade ao Imperador.

Tristão ao tomar conhecimento desta ocorrência resolve bater em retirada com seus oficiais, se deslocando pelo vale do Jaguaribe em direção ao Cariri, onde reunidos com Filgueiras e ao exército pernambucano, também em retirada, para organizar a resistência.

Resistência que não chegou a ser montada, cercado pelas tropas do Imperador, Tristão Gonçalves foi barbaramente executado, em Santa Rosa (31 de outubro de 1824).

 Suplantada a revolução, voltou Costa Barros a assumir o exercício de seu cargo de governador, a 17 de dezembro para entrega-lo dentro de menos de dois meses a José Felix de Azevedo  Sá.

Removido para a presidência do Maranhão por C. I. de 1 de dezembro, chegou ali a 5 de fevereiro seguinte (1825); todavia só assumiu a administração a 31 de agosto por se lhe haver oposto Lord Cockrane, que chegou até a deportá-lo para o Pará. O lorde inglês queria ter no governo quem não fosse adverso às suas reclamações de dinheiro e para isso melhor que Costa Barros lhe satisfaria o apetite, como satisfez, Silva Lobo, o presidente interino.

A Administração Costa Barros no Maranhão, amedrontada com o espectro de supostos republicanos, foi cheia de perturbações e violências, que deram azo ao aparecimento de panfletos.

Apesar dos ressentimentos deixados na Província, Costa Barros concorreu às eleições de 1826, para escolha dos quatro senadores cearenses que deveriam compor o Senado brasileiro e foi escolhido por Decreto Imperial de 22 de janeiro de 1827, tomando posse aos 7 dias de maio de 1827, entregando a administração da província do Maranhão ao vice-presidente, seguiu para o Rio de Janeiro, tomando assento no Senado.

Possuía as insígnias de Oficial da Ordem do Cruzeiro e Cavaleiro de Aviz. Deixou escritos: “Ode Pindárica aos Heróis Lus’ Anglos” (1814), “Proclamação do Presidente e Governador de Armas Pedro José de Costa Barros aos Maranhenses” e “Ode Pindárica ao Príncipe Regente do Reino do Brasil (1822).

Em 1832 reformou como Tenente-coronel, tendo falecido no Rio de Janeiro a 20 de outubro de 1839, onde foi sepultado.

Aí estão dados biográficos da vida e da trajetória política de Pedro José da Costa Barros, um cearense, maçom, fundador do Grande Oriente do Brasil, que só não foi totalmente esquecido, porque a municipalidade cearense, por meio da Lei 1.671, de 16 de dezembro de 1960, na administração do Gen. Manoel Cordeiro Neto, oficializou a Rua Costa Barros, em sua homenagem, rua que no passado foi chamada de rua Aurora, rua do sol, Travessa n. 11-A e rua Uruguai. Logradouro que geograficamente no plano urbanístico de Fortaleza, começa na rua São José, no bairro centro, e segue no sentido Oeste – Leste no bairro da aldeota, até a rua Tibúrcio Cavalcante.

Helio P. Leite - Um cearense emigrado e um obreiro da Arte Real

Bibliografia de apoio: Tempos Heróicos, Esperidião de Queiroz Lima, UFC, 1984 – A Confederação do Equador no Ceará, Arquivo Público do Estado do Ceará, 2005 – Alencar, O Padre Rebelde, J. C. Alencar Araripe, Sec. De Cultura e Desporto do Estado do Ceará – Ruas e Avenidas de Fortaleza e seus patronos, V. 1, Márlio Fábio Pelosi Falcão, 2017.