Pular para o conteúdo principal

LITURGIA MAÇÔNICA EM TEMPOS DE CORONAVIRUS

Até antes da chegada inconveniente do tal coronavirus estávamos todos numa corrida desenfreada contra o tempo, para ultrapassar as dificuldades financeiras e transpor os obstáculos de nossos dias. Mas, até então, nos faltava tempo para cumprir nossa agenda pessoal, os dias passavam céleres, uma verdadeira loucura sem fim.

Mas, de repente, com a chegada da epidemia tudo mudou. Fomos obrigados a nos recolher ao recesso de nossos lares, particularmente os que fazem parte do grupo de alto risco. Com isso os dias ficaram mais longos, nas ruas até então entulhadas de gente e de carros, os engarrafamentos desapareceram, as praças que há muito tempos não mais são do povo ficaram vazias. O comércio em geral foi obrigado a cerrar suas portas. A exceção dos

 supermercados, farmácias e postos de gasolina que  continuaram a todo vapor.

E que fazer neste tempo de confinamento, em Brasília, - onde o nosso governador mais uma vez prorrogou para o dia 11 de maio a reabertura das empresas comerciais e de serviço -, para quem está impedido de exercer o seu direito de ir e vir com segurança sanitária. De minha parte continuei fazendo o que sempre costumo fazer: ler, pesquisar, escrever, assistir séries no netflix, comer e dormir.

Porém, aproveitei também para reorganizar os livros de meu modesto acervo e nesta tarefa me deparei com alguns exemplares que tratam de ritos e de ritualística maçônica, o que me fez lembrar de uma antiga preocupação e desejo de escrever algo sobre “liturgia maçônica”, assunto tratado genericamente em nossos livros e em nossa legislação maçônica, o qual não desperta a atenção da maioria de nossos irmãos, que se dedicam ao estudo dos fundamentos doutrinários, históricos e ritualísticos de nossa Sublime Ordem.

Resolvi então iniciar uma pesquisa sobre o tema “Liturgia Maçônica”, para melhor entender os seus significados, suas origens, sua importância, seus usos, na maçonaria e se a liturgia e ritualística têm o mesmo significado, para nós maçons. Para tanto, solicitei a vários irmãos me enviassem  material  sobre liturgia, sobre atos litúrgicos maçônicos, sobre poderes litúrgicos maçônicos, cargos litúrgicos e tudo que se relacionasse com essa temática, e ontem e hoje recebi muitas contribuições que irão me ajudar para que possa formar uma opinião mais abalizada sobre esses temas.

Contudo, para não deixar quem está lendo esse texto sem informação sobre o termo “liturgia”, me vali de alguns dicionários de termos maçônicos, editados por vários irmãos, com por exemplo Nicolas Aslan, José Castellani, Joaquim Gervásio de Figueiredo, Rizzardo Da Caminha e Gilberto Lyra Stuckert Filho. E de um alentado dicionário intitulado Dicionário de Liturgia, de autoria do monsenhor Sabino Loyola, editado em 1994. Em Sobral Ceará.

Joaquim Gervásio de Figueiredo, em seu dicionário incluiu o verbete LITURGIA: “São as formas ou o ritual prescritos para o culto religioso e o processamento dos trabalhos maçônicos nos diversos ritos. Em sentido mais restrito, entre os cristãos é, especialmente, o Serviço Eucarístico, denominado Liturgia Divina na Igreja Ortodoxa  Oriental e Missa na Igreja Católica. É igualmente o livro que prescreve o cerimonial, o texto, a música, a ordem e o regime privativos de cada ritual.”

No Dicionário do monsenhor Sabino Loyola, foi incluído o verbete LITURGIA, com os seguintes significados.

“Segundo a etimologia da palavra, esta se compõe de dois elementos gregos: “leitos” que é  adjetivo derivado de “láos ou léos” (povo, coisa pública) e “érgon” (obra, serviço). Dá ideia de coisa pública associada a serviço, vem o serviço público, quer profano, quer religioso. Liturgia, originalmente, significou serviço público do poder civil em favor do povo. Numa época intermediária adquiriu conjuntamente o serviço em geral. Na época helenística surge no campo religioso, cultual. Na tradução grega do Antigo Testamento, feita no III século antes de Cristo pelos “setentas”, aparece com este sentido técnico com que é tomada a palavra e, mais tarde, adquire foros de cidadania na linguagem cultural do Cristianismo. Por estranho que seja no Ocidente latino, o vocábulo Liturgia foi de todo ignorado, por muitos séculos. Veio a ressurgir no século XVI pela influência do Renascimento. Ocuparam o lugar de liturgia os termos oficia divina, celebratio sancta, entre outros.”

No âmbito do Grande Oriente do Brasil, a Constituição de 24 de julho de 1990, assinada pelo Soberano Irmão Jair Assis Ribeiro, criou pelo art. 88 a Grande Secretaria de Orientação Ritualística. No regulamento Geral da Federação aprovado pela Lei 26, de 23 de janeiro de 1995, assinada pelo  Soberano irmão Francisco Murilo Pinto, foram previstas no art. 190 as competências da Grande Secretaria-Geral de Orientação Ritualística com o seguinte teor:

“I – acompanhar e orientar todos os atos litúrgicos na jurisdição do Grande Oriente do Brasil, propondo ao Grão-Mestre Geral as medidas que julgar necessárias ao cumprimento dos Rituais e no item II – participar dos cursos programados pela Secretaria-Geral de Educação e Cultura, sempre que a matéria envolva assuntos ritualísticos e litúrgicos.

Pelo que se depreende da leitura acima, assuntos ritualísticos e assuntos litúrgicos são distintos. Neste sentido o Irmão Gouveia, já falecido, quando de sua nomeação  para o cargo de Secretário Contudo, apesar destas definições e dos esclarecimentos ora evidenciados sobre o tema Liturgia, percebe-se que é preciso maiores explicações,  do que é ritualístico e do que é litúrgico, em nossa Ordem, enquanto Grande Oriente do Brasil. É possível que as inúmeras alterações feitas em nossos rituais para os três graus simbólicos, sejam a causa da falta de uniformidade em nossos procedimentos ritualísticos e ou litúrgicos.

Geral de Orientação Ritualística, esclareceu que “os atos litúrgicos de uma ordem, seita ou religião são aqueles que caracterizam a prática ritualística comum a todos os seus seguidores. A codificação das práticas litúrgicas é feita em rituais – conjunto de ações destinado a normatizar e homogeneizar a liturgia, permitindo a sua divulgação entre os adeptos.”

Contudo, apesar destas definições e dos esclarecimentos ora evidenciados sobre o tema Liturgia, percebe-se que é preciso maiores explicações,  do que é ritualístico e do que é litúrgico, em nossa Ordem, enquanto Grande Oriente do Brasil. É possível que as inúmeras alterações feitas em nossos rituais para os três graus simbólicos, sejam a causa da falta de uniformidade em nossos procedimentos ritualísticos e ou litúrgicos.

Neste sentido, será de grande valia as informações que me foram enviadas ontem e hoje, dia 3.5, por irmãos de várias partes do Brasil, em atendimento as minhas solicitações, as quais vou ler, reler, analisar para melhor compreender os significados: Liturgia Maçônica, Atos Litúrgicos Maçônicos, Instrumentos e objetos litúrgicos maçônicos, assuntos litúrgicos maçônicos, poderes litúrgicos, cargos liturgicos e enfim, quais as diferenças entre ritualística e liturgia maçônica.

Em breve pretendo voltar a este assunto, para mais uma vez me manifestar sobre os verdadeiros significados da Liturgia Maçônica, no sentido de contribuir para um melhor entendimento desta temática, por parte de nossos irmãos maçons.

Helio P. Leite