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MESTRE DE CERIMÔNIAS NO TEMPO E NO ESPAÇO

ASPECTOS HISTÓRICOS

Segundo G. F. Meirelles, in Mestre de Cerimônias, Apostila de curso realizado em São Paulo (2006),

“Nascido em tempos remotos, talvez no início da humanidade, desde que o homem é homem, a figura do Mestre de Cerimônias se confunde com a história do cerimonial. Rituais, cerimônias – ainda não eventos como conhecemos atualmente – faziam parte da rotina do homem primitivo.”

“Na China, Japão e outros países orientais, mil anos a.C., esses povos já utilizavam o Mestre de Cerimônias; os chineses em seus torneios de arco e flecha, que aconteciam anualmente. Já nessa época ele utilizava a força e ritmo da voz para destacar as equipes mais importantes, calcado num conceito de poder e nobreza. Na Roma antiga, ele surge na figura do chefe de trombeteiros que, sobre um cavalo, após o toque das trombetas e reunião do povo, anunciava a passagem do Imperador ou as medidas reais como aumento de taxas e impostos, maior submissão,  proibições e sanções que fazem parte da prerrogativa daqueles que detêm o poder. Mais tarde, já em nossa era, ele aparece na figura do Arauto. Vestido de acordo com os costumes da época, mas sempre impecável pelo destaque que tinha, anunciava a entrada dos convidados em festas da nobreza batendo antes três vezes um bastão, entalhado de madeira de lei com a ponta de aço, sobre um batente, produzindo um som alto e seco. Postava-se sempre à direita da entrada do salão, em posição de fácil observação deste e de quem entrava. Com voz alta, clara e empostada, anunciava a chegada das autoridades. Desta forma, nasceu e foi se firmando a figura do Mestre de Cerimônias. Sempre em posição de destaque, é ele quem inicia e conduz as fases de uma solenidade. “ – Meirelles, 2006.

Por outro lado, conforme nos informa o professor Reinaux, in apostila de curso de Mestre de Cerimônias: postura e elegância de uma cerimônia, em 1997, em São Paulo:

“Desde tempos imemoriais, isto é, quando o homem com o comportamento votivo já praticava as cerimônias de cultos, de ritos, o Cerimonial implicitamente surgia, com ele também haveria de ter surgido a figura do Mestre de Cerimônia. Aquele que dirigia a cerimônia, aquele que anunciava as ordens das autoridades, aquele que chamando a atenção dos participantes de uma solenidade dizia, e ou anunciava o que realmente iria acontecer. Funcionava assim, o Mestre de Cerimônia, como uma espécie de interlocutor da autoridade, transmitindo para os integrantes de uma reunião, cerimônia ou solenidade, os propósitos e ou os desejos das autoridades constituídas.”

CERIMONIÁRIO

O Dicionário de Liturgia, de Sabino Loyola, 1994, Fortaleza, Gráfica VT Ltda., nos oferece o seguinte verbete:

Cerimoniário. Também conhecido por Mestre de Cerimônias. Para que uma celebração, que requer maior número de ministros, seja executada com decoro, simplicidade e ordem, impõe-se que tenha um verdadeiro e não improvisado mestre de cerimônias. Prepara-se pelo estudo do conjunto dos ritos, para aquisição do conhecimento da função de cada ministro. Deve contar com estreita compreensão do presidente da assembleia e dos que desempenham ofício de celebração. Longe de subestimar o aspecto pastoral, empenha-se em valorizá-lo. Não se limita a conhecer a técnica, para bem conduzir um aparato, um como espetáculo, mas tenta aprofundar os conhecimentos litúrgicos: sua história, sua teologia, sua espiritualidade e outros aspectos da sagrada liturgia. No exercício de sua função, fala somente o necessário em voz baixa. O cerimonial dos Bispos recomenda que aja sempre com descrição e paciência, com piedade e diligência. Deve estar de veste talar e alva ou sobrepeliz. Sendo ele diácono, pode vestir dalmática e estola. Na preparação das celebrações, o mestre de cerimônia orienta o sacristão para que nada falte.”

NA ARTE REAL

Na Maçonaria, segundo José Castellani, in Dicionário de Termos Maçônicos, Editora Madras, 1989:

“O Mestre de Cerimônias é o oficial de uma Loja, em muitos ritos (nem todos possuem o cargo), encarregado de todo o cerimonial da Oficina. Para que exerça essa função, deve, o titular do cargo, conhecer bem a ritualística e o desenvolvimento cronológico das sessões maçônicas, ou públicas. A ele compete, principalmente>

- organizar a entrada ritualística dos maçons no  Templo;

- fazer preencher os cargos vagos em Loja;

- conduzir dignidades e autoridades do simbolismo ao Oriente;

- organizar e liderar todas as comissões destinadas a dar ingresso e acompanhamento a dignidades e autoridades e, nas sessões abertas ao público, ao Pavilhão Nacional e aos visitantes não maçons;

- conduzir o livro de atas para a tomada das devidas assinaturas;

- verificar e proclamar o resultado das votações simbólicas;

- fazer circular a Sacola de Propostas e Informações, com todas as formalidades ritualísticas;

- auxiliar o 1º Experto durante os escrutínios secretos, recolhendo as esferas;

 - participar da Cadeia de União, levando ao Venerável a palavra recolhida em ambos os lados da cadeia;

- incinerar as peças e colunas gravadas de que a Loja não queira tomar conhecimento, ou que não devam ser arquivadas (como propostas e sindicâncias de candidatos rejeitados); isto é feito entre colunas:

- levar ao Altar (ou mesa do Venerável) toda solicitação, recado, ou lembrete feito por escrito por qualquer membro do Quadro;

- conduzir aos seus devidos lugares os Mestres retardatários, apresentando-lhes o livro de presenças para a assinatura;

- conduzir até à porta, os maçons que irão ter o templo coberto, entregando-os, então, ao Guarda do Templo, que os faz sair;

- auxiliara e assessorar o Venerável, em todos os procedimentos que exijam a participação direta deste (sagração de candidatos, revestimento dos mesmos, formalidades de sessões de adoção de lowtons, de pompas fúnebres, de confirmação matrimonial etc.).

Nos Ritos que não possuem esse cargo, muitas atribuições descritas são transferidas aos Diáconos.”

NA SOCIEDADE MUNDANA

Nas solenidades públicas, sociais e institucionais, a presença do Mestre de Cerimônias é de fundamental importância, cuja atividade é exercida por profissionais de formações diversas – jornalistas, relações públicas, advogado – e não tem regulamentação.

Segundo a professora Gilda Fleury Meirelles, as características exigidas para um mestre de cerimônias são: determinação, voz, postura corporal, aparência pessoal, conhecimento, naturalidade, inspiração, memória, síntese e vocabulário. Ademais, o mestre de cerimônias não pode aparecer mais do que o evento, não pode falar o que ele quiser e não pode errar.

Para um melhor desempenho de sua função o mestre de cerimônia se utiliza de roteiros ou de script, que lhe são repassados pelo Diretor de Cerimonial.

O roteiro é um texto entregue às autoridades e pessoas que vão trabalhar no evento. É um documento normativo que estabelece as atividades da cerimônia e pode ser entregue pelo chefe do cerimonial aos profissionais envolvidos com a solenidade, incluindo o mestre de cerimônias. Do roteiro, o mestre de cerimônias prepara o script, ou recebe o texto pronto. O script é elaborado para a atuação do mestre de cerimônias e deve conter as falas determinadas para a condução da solenidade.

No cerimonial, o roteiro é a sequência das ações colocada em tópicos, por exemplo, aberturada solenidade; composição da mesa de honra; execução do Hino Nacional etc. O roteiro é menos detalhado do que o script.

O script, em cerimonial, é mais detalhado do que o roteiro. Com a indicação do que será falado pelo mestre de cerimônias durante o evento. O script reúne, além do texto do mestre de cerimônias, os tópicos determinados no roteiro, indicando a ação e o que deve ser falado para concretizar essa ação.

O CERIMONIAL MAÇÔNICO

A liturgia maçônica ou cerimonial maçônico dispõe de vários Ritos, cada um destes ritos se desdobram em rituais para cada tipo de celebração. Neste sentido, o conjunto de atos litúrgicos encadeados, com começo, meio e fim, devidamente codificado, ensaiado e executado pelos participantes de uma reunião se chama ritual.

Cada grau, vale, dizer, cada conjunto de participantes identificados por um ou mais atributos comuns, têm seus próprios rituais. Liturgicamente, rituais homogêneos, de práticas equivalentes e de sequências básicas comuns, assentados na mesma linha do pensamento filosófico constitui-se num rito.

Deste modo, no âmbito maçônico, os roteiros e scripts para cada evento, seja reunião esotérica, seja reunião exotérica, já estão incluídos em cada um dos rituais em uso ou em vigor. Ou seja, a condução dos trabalhos é realizada pelo Venerável Mestre, em nível de Loja simbólica, auxiliado pelo Mestre de Cerimônias, cujas poucas falas e os seus inúmeros movimentos, estão previamente inseridas na ritualística prevista para cada cerimônia realizada ou a ser realizada.

Portanto, o Mestre de Cerimônias na Arte Real deve ser conhecedor da ritualística de cada cerimônia realizada em Loja, de acordo com os preceitos estabelecidos em cada ritual, por isso é essencial que conheça a prática correta e exata dos atos litúrgicos na sequência apropriada, para que a comunicação entre o eu interior de cada participante e a egrégora formada pela Loja seja a mais completa possível, porque a não observância deste preceito contribui para o enfraquecimento dos laços invisíveis que unem os maçons na loja e tornam vulnerável sua predisposição para o trabalho comunitário.

Helio P. Leite